sexta-feira, 1 de abril de 2016

Paixão Clandestina


Para ele o bar deixara de ser um pretexto, diversão e trabalho, passou a ser uma obrigação. Entretanto o whisky não tinha mais gosto. Os amigos fanfarrões e sorridentes, não tinham mais o mesmo olhar e o piano que tocara ganhando a vida, antes companheiro de confidencias, agora eram insólito.

Arnaldo era um boêmio de mão cheia, e a noite já tinha lhe deixado alguns legados como estórias e relíquias, dentre elas, uma infinidade de instrumentos que aprendera a tocar, freqüentando desde sua infância as noites de Jazz & Blues entre o piano e o palco do bar nocaute, onde hoje ganhava a vida como músico profissional.

Entretanto, Arnaldo estava diferente de uns tempos para cá, pelo menos era o que os amigos diziam, se escorava sob o piano e por ali ficava até alguém ir acordá-lo. Decerto se imagina estar em um pesadelo. 

Mas certo mesmo é que estar naquela situação era o fundo do poço, em nada adiantava ser bem sucedido e não ser correspondido em seus mais fiéis sentimentos.

Há poucos dias atrás, em uma noite soube que deixara de ser prioridade em encontros para ser mais um na estatística. Estar e ser apaixonado por uma prostituta não era o caso, mas não ser correspondido e não ter a exclusividade que tanto gostaria deixava o magoado e irritado.

Não bastasse, naquela mesma noite, soube que sua então vedete, iria embora do país para angariar fundos financeiros melhores que mesmo com boas condições, Arnaldo talvez não suportasse.

Na despedida, apenas uma carta de até logo, nada mais.

Os dias se passaram e nada fazia Arnaldo esquecer sua então paixão e se “afogar” em doses de whisky era o que lhe restava. Ao menos era o que ele pensava, pois se sentia traído mesmo que por uma paixão unilateral que nutriu por anos em encontros casuais e às vezes até constantes.

Tentou inclusive outras paixões parecidas, com encontros forjados como os de outrora, mas esqueceu de avisar os sentimentos e o coração. 

Passaram encontros, devaneios, dias, meses, shows ... Sua banda, o piano e a vida de músico, deixaram de ser prioridades.  Seus amigos ensaiavam sozinhos, já o tinham deixado, sabiam de suas angustias, agruras e aflições. 

Eis que a noite mais uma vez lhe “aprontou”. Em uma apresentação solene do coral Vancok, Arnaldo fez parceria com um som que mudara para sempre sua vida. Um som pouco peculiar para o local acostumado as tragadas e fumaças de charutos e whisky sobre o piano.  

Era um som que subia e descia em uma “agressividade” sem igual, um som fino, mas ao mesmo tempo forte, que atendia por um nome apenas: Angélica. Com sorriso doce, por de trás de seu óculos “clean”, retirando de sua caixinha de música em formato violino, seus proventos para pagar sua faculdade por certo ser de música.

Era um som harmonioso, músicas que fascinavam e que acabou extasiando o coração de Arnaldo, pego sem seu âmago.

Aquela noite sim, Arnaldo descobrira novamente o caminho do balcão, voltou ao seu lugar, e os amigos voltaram a ser radiantes e seu whisky produzira um “perfume” de romantismo que nem mesmo os charutos e a fumaça conseguiram abater, mesmo em um local chamado  nocaute.  

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